sexta-feira, 22 de maio de 2015

APOSTASIAS BATISTAS por William Carey Taylor

APOSTASIAS BATISTAS

Desde que voltei a esta cidade, em fevereiro, a pergunta que mais freqüentemente ouvi foi esta: “Os batistas saíram da Igreja Católica Romana?” Minha resposta foi: “Não. Os batistas não saíram da Igreja Católica Romana. Pelo contrário, a igreja Católica romana saiu da primitiva vida batista do primeiro século, por uma evolução gradual e multissecular.” Sua apostasia do cristianismo original que Deus nos deu, por Cristo, seus apóstolos e nosso Novo Testamento, foi uma de várias apostasias batistas, que se deram através dos séculos. Não foi a primeira, e não será a última. Caveat!
Apostasia é o nome bíblico de desvios doutrinários da verdade e vida que Cristo revelou, e ordenou, como a norma obediente do cristianismo. A primeira apostasia batista foi a dos judaizantes, a doutrina de que, em um rito estipulado, não pode ninguém ser salvo, Atos 15:1. Foi a mãe de todas as heresias e apostasias. Começou primeiramente como uma heresia dentro das igrejas, tornando, se uma apostasia aberta, na altura da situação descrita na Epístola aos Hebreus e da Guerra dos Judeus contra Roma, que terminou na queda de Jerusalém. A segunda apostasia foi o gnosticismo, contra o qual Paulo e João admoestaram as igrejas. Era uma filosofia, erguida como autoridade sobre o espírito humano, em lugar da revelação. Geralmente ficava disfarçada no meio das igrejas constituindo a forma mais perigosa de apostasia, pois os traidores e guerrilheiros do falso constituem pior e mais perigoso inimigo da verdade do que o herege, que abertamente chefia uma apostasia. A terceira apostasia, da norma batista do primeiro século, foi a dos nicolaitas, cuja doutrina e obras características o Cristo da glória odeia. É a apostasia que obras que Cristo afirmou odiar. Oxalá todas as apostasias desaparecessem com igual rapidez.
A quarta apostasia, que posso discernir na história cristã, foi precisamente o velho catolicismo. Sua essência se manifestou no segundo século. Tornou-se multiforme, pois na e sempre houve numerosas seitas católicas. Expandiu em forma, diminuiu em espírito e degenerou em doutrina. Católicos romanos e católicos gregos ou ortodoxos, católicos sírios e católicos cópticos, católicos estipes, para cuja escravização o papa abençoou as legiões de Mussolini, e católicos armênios, católicos sírios e seus rivais de Mussolini, e católicos armênios, católicos sírios e seus rivais os católicos jacobitas de Malabar, Índia, os da Igreja Católica Velha, sem infalibilidade papal, e as muitas Igrejas Católicas Nacionais, a Igreja Católica Brasileira do bispo de Maura e a Igreja Católica Liberal de Dom Salomão Ferraz, e os demais catolicismos que nasceram ontem. Todos esses são a prole daquele primeiro catolicismo. Contei, há trinta anos, 43 variedades de católicos no mundo, sem mencionar os 65 ritos ou denominações dentro do romanismo e suas formas uniates, e as ordens monásticas, que divergem entre si muito mais do que os batistas e os presbiterianos. O catolicismo, de que tudo isto evolui, em muitos lugares e em formas divergentes, é apostasia do meio milênio, principalmente, que durou de 150 D. C. até 650 D. C. e culminou na Idade de Trevas. Adão não nasceu de Caim: o primeiro assassino nasceu e degenerou de Adão.
Quando, pois, falamos da apostasia, falamos biblicamente. Paulo assim falou, na sua segunda epístola. Alguém, com o pouco escrúpulo do herege, fizera propaganda entre os tessalonicenses do que “o dia de Cristo estava perto”, II Tes. 2:2. Cristo está perto, o dia de Cristo não estava perto. Já passaram 2.000 anos e ainda não chegou. E Paulo preveniu os tessalonicenses de que ele nunca fizera tal propaganda e que não fossem por enganados. Disse ele que aquele que não chegaria “SEM QUE ANTES VENHA A APOSTASIA e se manifeste o homem do pecado, o filho de perdição”, v.3. “Apostasia”, pois, é nome de movimento, e assim usamos o termo. Não significa que todos que acompanham o movimento estejam destituídos da salvação. Isto não é o assunto, nem é a verdade. Trata-se de fidelidade doutrinária. Em muitas das grandes apostasias dos séculos, o fato mais triste do caso é que muitas vezes homens salvos, originaram, e outras vezes acompanharam, tais apostasias. Estou usando, pois, a palavra apostasia no sentido bíblico, não no sentido católico romano da linguagem.

Há muita filosofia de apostasia o coração crente. Graças a Deus que o coração de muita gente, com o qual se creu em Cristo para justiça imputada e eterna, o coração, digo, é melhor do que a cabeça, tão facilmente enganada por um propagandista simpático. Muitas vezes, os filisteus da heresia e apostasia têm lavrado sua roça eclesiástica com as novilhas dos nossos Sansãos; e, mais tarde, esses próprios Sansãos, cegos, andam moendo o trigo dos incircuncisos, na roldana da heresia. Oxalá Deus ainda lhes desse a coragem e a força de empurrar as colunas do Templo de Dagom para a ruína.
No princípio do meu ministério, há quase meio século, combati o bom combate, guardei a fé e guardei a carreira no meio de lutas das nossas igrejas batistas, contra duas apostasias batistas modernas que arrogantemente bloquearam o caminho do progresso de nossas igrejas, ameaçando-as de aniquilamento e ruína. Estas duas apostasias eram (1) o movimento que, popularmente, foi conhecido de Batistas de Cada Dura, que se chamavam a si mesmos, porém, Igrejas Batistas Primitivas, enganadas em supor que sua atitude antimissionária era a fé primitiva batista; a (2) movimento de crasso sacramentalismo que optou pelo nome sectário de cristão. Eram apostasias gêmeas. Ambas fingiam repudiar tudo que não encontrassem na Bíblia. Os Casca-Dura alegaram estar contra todas as invenções humanas, como juntas, convenções, sociedades bíblicos, colégios e seminários, escolas dominicais, uniões missionárias femininas e de crianças, etc., etc. A outra apostasia, a das “Igrejas Cristãs”, adotou o lema: “Onde a Bíblia fala, nós falamos: onde a Bíblia se cala, nós calamos.” È esquisita quanta falsa doutrina se esconde num lema sectário.
Ora, nenhum dos dois lemas era a verdade e nem eles viviam de acordo. Tinham casas de culto, mas as igrejas bíblicas não tiveram casas de culto. Tinham hinários mas os apóstolo não tiveram cantores impressos. Tiveram associações de igrejas, que são apenas pequenas convenções, muitas vezes lhes disse eu: “No mesmo versículo onde a Bíblia fala de associações batistas, fala de convenções dos homens. E esta lista se estende à vontade do freguês, ou de acordo com o que ele precisa ouvir.
O outro lema era igualmente estúpido e hipócrita. Os tais “cristãos” falavam muito da “lei de perdão”, que consistia em quatro elementos de salvação. Uma salvação qual maná da peregrinação no deserto que facilmente se derretia debaixo do sol de tentação. Essa “lei de perdão” de Alexandre Campbell, enganador primeiramente dos presbiterianos da Escócia e, depois, dos batistas da minha terra, era primeiramente a fé, no sentido de crença nas falsas doutrinas dele e de sua seita antisectária. O segundo passo devia ser a arrependimento, mas ele o traduziu reforma. Tenho exemplar do seu testamento que traduziu imergir, o vocabulário do batismo e traduziu o verbo arrepender-se com o verbo reformar-se. Fé, reforma, confissão (Eu creio que Jesus Cristo é o Filho de Deis; a isso denominou Campbell “a boa confissão”, não falando onde a Bíblia se refere a tal, pois nunca disse a escritura, que isso era “a boa confissão”). Fé, reforma, confissão e o batismo eram a lei do perdão. Ao fim dessa fé (opinião campbelista), reforma superficial, confissão de ser Jesus o Filho de Deus e batismo à toa, pois o ministro era autocrata, batizando ao eu bel prazer a quantos encontrasse na estrada – ao fim de tudo isso, digo, o homem se tornava um tal “cristão”, alcançando suposta salvação, POR ORA. Nada de regeneração – o batismo era o nascer de água, nada de arrependimento, nada de fé em Cristo, pois meras opiniões sobre doutrinas não constituem fé salvadora, nada de vida eterna, garantida por Jesus a nunca perecer. Um cristianismo mas fraudulento nunca existiu. Mas o homem culto da Escócia metia medo em nossa gente batista, quase toda rural e sem cultura. Ele capturou igrejas batistas inteiras, quase associações inteiras. A segunda vez que fui chamado ao pastorado de uma igreja, havia na pequena cidade duas casas de culto construídas pelos batistas. Uma era da tal “Igreja Cristã” que proselitou a igreja batista unânime, e roubou sua casa de culto de toda a sua propriedade, sem que ficasse um sobrevivente do dilúvio sacramentalista. Um batista teria conservado a propriedade, pois os tribunais dão a propriedade a um membro que tenha ficado fiel à fé, tirando-a da maioria, mesmo quase total, que tenha apostatado da fé. Mas nossa segunda casa de culto batista teve de ser edificada por novo elemento que veio à cidade muito mais tarde.
O próprio romanismo não era um sacramentalismo mais anticristão. Mais tarde a seita dividiu-se em meia dúzia de seitas, cada uma pior, sendo que a seita-mãe degenerou no modernismo. Revoltaram-se outras. A mais forte é os antiorganistas. A Bíblia não fala em orgão ou harmônio, logo é pecado ter instrumento de música na igreja, se vamos fala, e calar onde a Bíblia se cala. Mas essas igrejas antiorganistas têm belos coros, com dirigentes, também matéria do silêncio do Novo Testamento. Fogem para o Velho. Mas o dirigente do coro tem um pequeno instrumento que ele põe na boca para dar o tom, com que orienta tenores, baixos, etc. Nossa gente não tardava em mostrar que no mesmo versículo onde ele encontrasse menção desse pequeno instrumento, ali a Bíblia fala de harmônio, de piano para cada departamento da Escola Dominical, de violinos, harpas e órgão hammond. Que tolice. A Bíblia é livro de verdades e princípios, não um catálogo de tudo que se deve ter e fazer ou não ter e não fazer. Princípios, sim, são inumeráveis: sua aplicação toma novas formas cada dia.
Quanto aos supostos “primitivos”, levaram a metade da denominação, talvez uns cem mil membros. Depois de um século são os antimissionários ainda uns cem mil, em número, e as igrejas batistas missionários têm uns 18.000.000 de membros ali.
Li outro dia esta história, que me parece um tanto apócrifa, mas ilustra bem o caso. Havia um avivamento unionista numa vila na outra América. Quanto pecado apostasia e engano se veste do mento de aviamento! O dirigente era evangelista do tipo unionista, que enquanto está na cidade, quer capturar todos, sem distinção denominacional, e seus bolsos. Nessa propaganda, ele imaginou que chegou ao céu e, não existindo nenhum fictício São Pedro à porta, perguntou a um anjo: “Há por aqui algum metodista? Não, disse o anjo, não há metodistas no céu.” Indagou ainda: “Há qualquer batista por aqui? Disse o evangelista malevolamente olhando ao pastor batista: “Não”, tornou o anjo, “não há batistas no céu”. “Idem quanto aos presbiterianos.” Arrebatado com essa propaganda antidenominacional, olhou para o pastor da tal Igreja Cristã”, que também não era do seu tipo de unionismo, e gritou: “Anjo, há cristãos no céu.” O anjo ia dizer a tolice que o unionista lhe colocaria na boca, quando de repente lhe veio o sentido: “Não. NÃO HÁ CRISTÃOS NO CÉU!”. Mas a sentença ficou pela metade, parada no ar como dizem estar o caixão de Maomé, meio distante entre o céu e aterra. “Não há cristãos no céu? Então quem para lá entrará? Confundiu-se um bolo eclesiástico. No céu seremos quem fomos. Teremos nome, sem dúvida, mas não será cristão, vocábulo da gíria pagã, em sua origem, e que a Bíblia só menciona três vezes sempre em referência a essa origem pagã. As piores seitas são as seitas antissectárias que ambicionam o nome de Igreja Cristã.
Cada seita partiu de outra, a não ser o cristianismo que Cristo relevou e perpetuou no Novo Testamento. Os metodistas partiram dos anglicanos, estes do romanismo, sendo o romanismo a evolução do catolicismo da primeira de todas as apostasias, e ele ainda está evoluindo. Afirmei, no começo, que esta apostasia afastou-se do regime apostólico, de fé e prática batista. Isto é afirmação a provar, não meramente a proclamar dogmaticamente. O cristianismo é forma e espírito. A este respeito, talvez a parábola mais batista do novo Testamento é a doutrina de Jesus em Mat. 9:14-17; Mar. 2:18-22; Luc. 5:33-39. A revelação do Velho Testamento é classificada de vestido velho, com roturas – brevemente estaria em farrapos. É classificada como vinho velho em odres velhos, forma e espírito, incapazes de ser ou conter o cristianismo de Cristo.
Notai que a revelação mosaica é vinho, é pano. Mas o pano envelheceu, os odres ficaram duros, igualmente capazes de rotura, como o vestido cujo dia de uso passou. O Velho Testamento está cheio do cristianismo, mas está ali em revelações parciais, preparatórios, passageiras, de profecia, tipos, metáforas, homem e ofício, que serviam de figuras do porvir messiânico, de holocaustos e cerimônias que eram o Calvário dramatizado. Nunca Jesus (ou Paulo ou Pedro) pregava um sermão que não fosse a exposição do cristianismo do Velho Testamento. Todavia, passou. “Todos os profetas e a lei profetizaram até João”, Mat. 11:13, até João Batista, não além. Com João Batista, estamos no Novo Testamento, no cristianismo de fato prestes a ser consumado, de história redentora logo cumprida, da plenitude dos tempos e da revelação. São vestido novo para novo cristianismo, o cristianismo do Cristo presente, cujo cristianismo é vinho novo em odres novos, numa revelação final perfeita que criou tanto seu espírito como suas formas, tanto sua experiência própria como suas igrejas próprias, ordenanças novas e ministério novo. Em forma e espírito, o cristianismo de Cristo é novo. Não é da marca A. C., nem dos séculos D. C. posteriores que seguiram o século da revelação final. Esta revelação foi, e é, perfeita, uma vez para sempre manifestada em Jesus Cristo, interpretada e historiada na sua plenitude inspirada no Novo Testamento. Todas as Igrejas Católicas e as Igrejas Nacionais Protestantes são odres velhos, do Velho testamento, com três qualidades de vinho misturadas, o cerimonialismo, o sacerdotalismo e o ritualismo do regime mosaico, em primeiro lugar; algo de história, idéias e nomenclatura do Novo testamento, em segundo lugar; e graus diferentes das tradições dos homens, em terceiro lugar. Cada odre tem mistura desses três elementos em grau mais nojento ou menos nojento, para o homem espiritual, conforme o gosto da seita. Quando se formou um clero católico, este inventou um vasto Odre Católico e misturou, com uns restinhos do Vinho de Cristo, o conhaque do sacerdotalismo romano, a aguardente do sacramentalismo pagão, o álcool natural da tirania medieval, e tantas outras bebidas intoxicantes quantas lhe convieram e o vendeu como vinho do cristianismo único.
Nosso Senhor recebeu queixas de fariseus e de alguns discípulos de João.
Queriam que Jesus inventasse novos jejuns, ou apoiasse jejuns que eles inventaram ou imitaram. A resposta de Jesus foi que ele não veio para costurar remendo de um jejum novo sobre o vestido do mosaísmo, nem iria ele usar as velhas formas mosáicas para conter a nova revelação cristã. O cristianismo de Cristo já era, e continuaria a ser, seu vinho novo em seus odres novos, uma revelação autônoma, nova e completa em si, em forma e espírito, para a era do evangelho. O catolicismo voltou para os odres sacerdotais de Arão, e meteu neles o vinho da filosofia de Plantão e Aristóteles. Então transferiu tudo para um vasto Odre Católico, modelado no Império romano pagão.
Como começou o catolicismo original, que evoluiu nos ramos gregos, romanos, etc.? Foi uma apostasia batista. Depois da morte do último apóstolo, apareceu o germe de todos os catolicismos. Principiou tudo na corrupção do batismo, na idéia de que o ato salva. Não buliram ainda com o ato do batismo. Continuou a ser a imersão. A imersão e o batismo são uma só palavra, em duas línguas. Mas nas filosofias correntes havia muita superstição sobre o poder místico dos elementos primários da natureza. A água, pois, possuía poder mágico. Água batismal fica sendo água benta, três vezes benta. Aí tendes o germe do romanismo e de todos os demais catolicismos e de muito protestantismo. É a apostasia-mor, apostasia mortal, a apostasia-mãe.
Uma vez generalizada esta superstição, que destrói o evangelho, veio uma sucessão anti-apostólica de mudanças – é a qualidade de sucessão que Roma e Canterbury. Já corromperam o vinho, não lhes importa mudar o odre. Se a água regenera, então haja mais água no ato. Passaram de uma só imersão para a trina imersão, que uma parte do catolicismo subseqüentemente evoluído ainda retém, até no seu atual batismo infantil. E adicionaram mais pompa e publicidade. O episcopado inchou-se, como fez o batismo. Só o bispo de diocese batizava, agora. Construíram vastos batistérios, espécie de catedrais do sacramentalismo pomposo. Reservaram os batismos para a semana santa. Alguns destes prédios imensos de batistério ainda existem, monumentos daquela loucura de glorificar água batismal para tudo. Neles a tália pagã passou para o cristianismo nominal.
Outra evolução pagã, cujo monumento é a arte medieval do assunto, foi vergonhosa nudez dos batismos dessa apostasia. Os homens foram batizados à parte, e as mulheres, em bloco, todas completamente nuas. Para prepará-las e cercá-las, inventou-se uma ordem de diaconisas, e os diáconos leigos do primeiro século passaram a ser auxiliadores dos padres, e mais tarde seriam padres também, pois funcionaram no sacramento da vida. Warfield descreve o batismo de prosélitos em Israel, rito que acompanhava a circuncisão do estrangeiro, dizendo que os judeus lhes tiraram os anéis, a roupa toda e qualquer coisa que viesse impedir o contacto da água santa com a pessoa a ser purificada por ela. Essa superstição invadiu tanto o judaísmo como o cristianismo apóstata, de fato ambos apóstatas, um tendo rejeitado seu Messias, outro, o evangelho deste mesmo Messias.
Quando Deus criou o sacerdócio genuíno de Israel, impôs a modéstia no ofício. No mesmo capítulo 20 de Êxodo que contém a lei moral, lemos: “Não subirás também por degraus no meu altar, para que a tua nudez não seja descoberta diante deles”, v.26. Ora o Deus que legislou sobre a arquitetura de sua casa, afim de que não se visse a batata da perna de um sacerdote, teria enviado João Batista para gente quase nua, teria levado seu Filho unigênito numa procissão vergonhosa dos nus para as águas do Jordão? É afronta à majestade divina do Salvador, é insulto a memória do maior homem nascido de mulher, que perdeu sua própria vida porque exigiu a pureza no palácio real. Arte mentirosa e imoral não é arte cristã. É meramente medieval. É parte da suprema apostasia.
Gradualmente, após tempo, a superstição, como a lepra, se estende para novas regiões do corpo eclesiástico e suas doutrinas. Se água benta salva, então usemo-la quanto antes. Vamos aplicá-la na infância. Com o advento da idéia, o medo exigiu o batismo para as criancinhas doentes, e também para os doentes adultos. Mas a água fria pode fazer piorar certas doenças. O doente não pode esperar até a semana santa e não pode ir ao grande batistério. Resultou uma abundante derramação de água na cama, que teria o efeito o efeito da imersão. E veio o batismo infantil. Com estas modificações, alguém lembrou que, se é a água que regenera, e se a abundante afusão serve para os doentes, a afusão é forma permissível. Ora, o preguiçoso sempre toma o passo que menos energia exige. Daí a mudança gradual do ato, para trina afusão, depois para uma afusão, tendo o protestantismo recuado para a aspersão.
A apostasia muda de modas, do inverno para o verão, do outono para a primavera. Logo ficou de adiar o batismo, para o homem sadio, até quase à hora da morte. Assim fez Constantino, o Grande pagão, o não-batizado-bispo dos bispos de Nicéia. Na bem calculada véspera da morte, foi submetido ao rito pagão chamado batismo. Seu clero podia lhe garantir que assim se removia seu pecado original, os rios de sangue que derramara, seus homicídios sem conta da família para fora, suas traições sem mercê, e se tornaria assim filho de Deus, membro do corpo de Cristo, herdeiro da salvação. Com essas modas mil de corrupção do batismo, tudo mais no cristianismo se corrompeu. O mundo entrou na noite medieval. A religião nominal de Cristo ficou mais bárbara do que os bárbaros que saquearam seus palácios em Roma. Esta vasta apostasia principal abandonou a vida batista do Novo Testamento, pouco a pouco, passo a passo, para a perdição medieval.
Em todos os séculos, quando a Bíblia fica nas mãos do povo regenerado, muitos voltam para Cristo e o cristianismo de Cristo, mesmo que lhes custe o ostracismo, o banimento, a roubalheira dos bens ou o martírio. Independentemente da vinda dos Bagby e Taylor para o Brasil, veio outra missionária batista: foi uma Bíblia católica, duas aliás, e toda Bíblia católica está cheia de doutrina batista. Para o padre Teixeira de Albuquerque, em Olinda, a missionária batista era um exemplar da Vulgata, e ele saiu, qual Abraão a peregrinar, até que encontrasse o cristianismo do Novo Testamento. E o encontrou, numa igreja batista de colônia estrangeira, em Santa Bárbara. E outra missionária, da mesma fé e ordem, veio de Portugal para Inocêncio Frias, pai da primeira mulher brasileira a ser missionária. Essa missionária impressa também foi Bíblia católica, que sua tia lhe enviou de Lisboa. E Inocêncio Frias ia à feira e à missa cada domingo, levando um grande tomo de sua Bíblia católica e sempre com a mesma pergunta: “Por que o nosso cristianismo hoje não é como o cristianismo do Novo Testamento?” era apontar cada vez um elemento do cristianismo batista do Novo Testamento. Afinal, irritado com sua peregrinação espiritual para a fé batista original, sem que ele soubesse existir batista no mundo, alguém lhe disse: “Lá no Recife na Rua da Aurora, no primeiro andar de um sobrado, há pequeno grupo de hereges como você. Por que não vai unir-se a eles, se assim pensa?” E imediatamente ele foi e jubiloso achou, de fato, o cristianismo do seu Novo Testamento, na pequena igreja batista pastoreada por Entzminger. Nós, como poucas nações no mundo, temos tido contínuos e muitos casos desta natureza, em que as almas sinceras, uma vez encetando aquela peregrinação para o cristianismo de Cristo e do Novo Testamento, o descobriram numa igreja batista humilde.
Nada mais claro. Desde João Batista até o mártir Antipas nada se vê, nada houve como batismo, senão o ato de imersão. As duas cidades a que Paulo enviou epistolas, sem as ter visitado, foram Roma e Colosse. Ele bem sabia, porém, e podia escrever com absoluta certeza, que cada membro de uma igreja de Cristo fora sepultado pelo batismo. Era uma certeza unânime. Nenhuma afusão ou aspersão surgiu para destruir o batismo genuíno, pela circulação de batismo contrafeito. Nada de batismo infantil. Nada de salvação depois do batismo, mas sempre salvação pela graça, mediante a fé, resultando na vida eterna, antes do batismo, sendo o batismo um ato desta vida eterna, expressando votos de andar na mesma novidade de vida. As mesmas doutrinas da Confissão de fé adotada pelas igrejas batistas brasileira é o que Lucas chama “a doutrina dos apóstolos” em que os salvos obedientes andaram, e andam, perseverando. As doutrinas são as mesmas o ministério é o mesmo, a natureza congregacional das igrejas, desde Mateus até o Apocalipse, e a pluralidade das igrejas é o mesmo cristianismo batista do Novo Testamento. O evangelho é o mesmo, a Grande Comissão, a santa cooperação das igrejas em grande escala, mediante mensageiros que, nesta afã se tornam “a glória de Cristo”. As apostasias batistas consistem em abandonar este cristianismo original, para seguir os homens.
E não pensemos que os casos de Inocêncio Freias e Teixeira de Albuquerque e dos Paranaguás de Corrente são casos excepcionais. A busca do cristianismo original é o fenômeno mais comum de nossa vida batista. Os volumes das Atas da Aliança Batista Mundial historiam a mesma peregrinação de investigadores sinceros em todos os continentes e muitas nações. Na Coréia e na Venezuela, recentemente, foram descobertos grupos isolados, vivendo uma vida batista, sem saber dos outros batistas do mundo, mas que com alegria ficaram em nossa comunhão, após visita investigadora e orientadora de uma batista que ouvira dos casos. Ouvi ilustre batista, H. A. Porter, dizer como visitou os batistas de um país balcânico, os quais colocaram reclame num grande diário europeu, enumerando as doutrinas que acharam no Novo Testamento e perguntando se havia um povo que advogasse tais verdades. Viajou para eles um pastor batista irmão e os batizou e serviu.
No congresso da Aliança, em Estocolmo, o Pres. João Clifford não pode assistir. Escreveu carta de saudação aos batistas ali reunidos, de que cito estas palavras: “Uma das necessidades primaciais da Europa, na minha opinião, a primeira e mais urgente necessidade, é a interpretação batista do cristianismo de Cristo Jesus, no Novo Testamento. Por mais de trinta anos esta convicção se forçou sobre mim. Deus para isto nos chama. Este é o dia que o Senhor fez para nós e triste será nossa sorte se lhe formos falsos nesta hora de premente necessidade. O domínio do catolicismo romano em certas áreas, da Igrejas Ortodoxa Grega em outras, e a prevalência das idéias e práticas do controle de religião pelo Estado, não obstante pretensão de ceder à liberdade da consciência; estes fatos constituem chamadas urgentes para nosso testemunho”, Londres, 13 de junho de 1923, p. 44, das Atas da Aliança do mesmo anos.
Disse, no mesmo espírito, o operoso e culto Rushbrooke, em Berlim, no ano de 1934: “Em muitas partes do mundo surgiram comunidades batistas, sem que seus membros soubessem existir em canto algum do mundo outros que lhe fossem semelhantes. Nasceram do estudo do Novo Testamento sob a direção do Espírito, como o intérprete” (p.23, das Atas).
No segundo congresso, ouvi o imortal Robertson dizer o seguinte: “Existindo Bíblia, alma regenerada e mente sem preconceitos, o resultado inevitável é um batista. Se não és batista, meu irmão, qual a razão?” Assim falaram mil vezes Carey, Judson, Spurgeon, Truett ante multidões de crentes humildes, que tudo sacrificaram pela lealdade a Cristo, a qual o Dr. Mullins definiu como o supremo princípio batistas, em várias reuniões da Aliança.
Se o conselho Mundial das Igrejas falsas conseguir formar outra Babel, com a costumeira intolerância, no dia seguinte, depois de todos os cristãos nominais formarem esta união, eis o que vai surgir. Cairá na mão de alguém um Novo Testamento e ele irá perguntar, para si mesmo e para outros; “Por que esta cristandade unida está tão diferente do cristianismo de Cristo, revelado no Novo Testamento?” E daí, lhe repetirá o mesmo processo que nos deu os batistas Inocêncio Frias, Teixeira de Albuquerque, os Nogueira Paranaguá e milhares de outros.
Em lugar deste cristianismo de Cristo, revelado no Novo Testamento, para o qual a consciência iluminada sempre voltará, alguns querem limitar as convicções batistas à norma de homem. Houve um vai-vem de homens sinceros, procurando achar este testemunho do cristianismo original, vai-vem entre a Inglaterra e a Holanda, no começo do Século XVII. Grupos que acabavam de repudiar o angloromanismo apalpavam para achar o cristianismo original, e já em existência como igrejas, se isso fosse possível.
Paremos aqui para comentar este tipo de pessoas. Não são a norma de nossa vida. Desnorteados, ainda buscam eles mesmos a norma apostólica. “The Converted Catholic”, mensário de uma organização de ex-pades de Nova Iorque, disse há pouco de um ex-padre: “Até depois de sair da Igreja Romana, sua mente estava envolvida numa garoa de confusão quase total. De fato. Um homem pode sair de Roma, por uma só doutrina provocante, como Lutero revoltou-se contra as indulgências. Seríamos tão estúpidos que abandonaríamos o exemplo, o ensino e a autoridade de Cristo, para estabelecer como norma batista um peregrino que acaba de tomar dois passos fora de erro, na senda da verdade? Colocaremos perante nossos olhos um João Smythe, um Tomás Hewys, ou um João Murton e seu vai-vem entre Inglaterra e Holanda, entre a verdade e o erro? Que direito têm eles de decidir para nós o que significa ser batista? Quem provará que tiveram semelhante desejo ou função? Morreu João Smythe em nosso lugar? Disse Tomás Helwys: “Toda a autoridade me foi dada”, ide, pois, e fazei como fiz na Holanda e em Londres? Servem de norma para nós as hesitações de um ex-padre, ou ex-católico qualquer ou ex-anglicano? Pereça esta noção! Isso seria fazer-nos discípulos dos homens. Eu não daria meia pataca por um milhão de João Smythes ou João Murtons ou Rogério Williams, como norma da vida batista. Não conheço pessoalmente um grupo de igrejas batistas na face da terra que mão tenha ido muito além desses principiantes na verdade, no conhecimento da soma de doutrina, que constitui a fé uma vez para sempre entregue aos santos, para qual devemos batalhar, viver e testemunhar, individual e coletivamente.
E será isso mera noção minha? Vejamos. O Dr. George McDaniel, Presidente da maior convenção batista do mundo. E pastor da histórica Primeira Igreja Batista de Richmond, disse: “Nós, com justiça, nos ufanamos de nossa origem antiga e bíblica. Diversos homens são apontados como fundadores de denominações. Mas não é assim com os batistas. Nenhuma personalidade existe, aquém de Jesus Cristo que sirva de explicação satisfatória de sua origem. As igrejas do Novo Testamento eram independentes, governavam-se a si mesmas e eram de natureza democrática, precisamente como as igrejas batistas de hoje. Nós não principiamos na Idade das Trevas, nem reforma, nem em qualquer século depois dos apóstolos, mas achamos nossas ordens de marcha na Grande Comissão. A primeira Igreja Batista foi a Igreja de Jerusalém. Nossos princípios são tão velhos como o cristianismo e nenhum Fundador confessamos senão a Jesus Cristo.”
Ouvi o famoso F. B. Meyer, de Londres, dizer em Baltimore, no ano de 1910, à nossa convenção batista reunida ali: “Meus irmãos, nenhum dia, deste lado de Pentecoste é nosso dia natalício.” E declarou Spurgeon: “Não me envergonho da denominação a que pertenço, que veio, como cremos, diretamente da pessoa de Jesus Cristo, sem ter jamais passado através do manancial lamacento do romanismo. Temos uma origem à parte de todos os dissidentes ou do protestantismo, porque nós temos existido antes de todas as demais seitas.”
E o Dr. Mullins une sua voz com as vozes d Clifford e Rushbrooke, testemunhando que a Bíblia lida faz batista em toda parte: “Sem outro guia senão o Espírito Santo e o Novo Testamento, o florescente movimento batista começou na Rússia. Outros casos do mesmo princípio são numerosas na história moderna. No México e no Brasil e alhures igrejas batistas surgiram espontaneamente, como resultado do simples estudo do novo Testamento sob a tutela única do Espírito Santo.” E ele narra como , em 1834, em Hamburgo, Alemanha, Oncken e um pequeno grupo estavam sem guias eclesiásticos. Fecharam-se com o Novo Testamento, isolando de outros contatos. Uma igreja batista resultou. E, como sabeis, desta igreja e deste princípio, originou grande parte da história batista moderna na Europa, onde a perseguição unida de Romanista, Ortodoxo e Protestante exterminou os anabatistas.
Essas são vozes batistas, e é um coro mundial. Mas cito também o testemunho de observador. As autoridades do recenseamento nos EE. UU. Publicam um vasto livro de estatística religiosa. Tem uma breve história de cada denominação. Cada qual das maiores denominações protestantes se liga a um fundador humano. Mas o livro do recenseamento declara: “É um princípio distinto entre os batistas que não reconhecem fundador humano, não confessam autoridade religiosa humana e não acatam credo humano algum. Para todos estes fins, os batistas de todos os nomes e de toda ordem se voltam para o Novo Testamento. E, embora nenhum historiador batista competente alegue ser possível traçar uma sucessão de igrejas batistas através dos séculos, a maior parte deles estão de acordo em crer que, se pudéssemos conseguir os dados, seriam encontrados, em todas as épocas da história cristã, grupos que mantiveram, com seu testemunho e, em muitos casos com suas vidas, os grandes e notáveis princípios das igrejas batistas hordiernas” (Census of Religious Bodies, 1926, Vol. II, p. 77).
Notai que esta declaração afirma que a origem batista, a partir do Novo Testamento, não depende de uma sucessão de batismos batistas e de igrejas batistas. Absolutamente nada tem com tal assunto. É a razão porque os mesmos batistas que afirmam isto recusam ver em João Smythe, na Inglaterra, ou Rogério Williams, em Rhode Island, ou Oncken, na Alemanha, ou qualquer outro, o fundador da denominação batista. Não cabe, nas fraldas doutrinárias desses bebezinhos em Cristo, o movimento batista. Esses investigadores do Novo Testamento apelaram a Cristo e à Bíblia. Não se arvoraram em ser o Moisés de nosso Israel, em sua peregrinação. Somente queriam voltar para Cristo, do desvio em que se encontraram. Longe estavam de fundarem nova religião ou seita.
O batismo é como o matrimônio. A monogamia tem sua lei em Cristo. Quando aparecem filho ilegítimo e pais ilegítimos, a norma não esta perdida. É que ainda não houve casamento civil. E esse filho ilegítimo se casará civilmente e estabelecerá um lar legal. Assim fizeram Carey e Fuller acerca do batismo, vindo dos anglicanos; assim fizeram Teixeira de Albuquerque e mais uns quarenta sacerdotes de Roma, vindos do romanismo no Brasil; assim fizeram Spurgeon e Ginsburg, vindo dos congregacionais; assim fizeram um milhão de batistas russos, vindos da pseudo-ortodoxia grega. Assim fazem e farão milhares ou milhões de outros, através dos séculos, se Jesus tardar na sua vinda.
E, como a vasta doutrina batista não se pode limitar aos poucos assuntos e à insuficiente investigação e crença de um Smythe ou Williams ou de qualquer outro principiante em nossa fé, de igual modo a doutrina batista não abrange erros e heresias e apostasias do Novo Testamento. Uma associação Batista no Est. Da Virgínia elegeu doze apóstolos. Era apostasia, oriunda de um entusiasmo pela reprodução exata do cristianismo do Novo Testamento. Mas enganaram-se. Por que não elegerem outro Cristo, e outro Espírito Santo, marcando no calendário outro Pentecoste? Como não provisionaram outro Calvário, como Roma faz em seus altares e dramatiza em sua semana santa? É porque parte vastíssima da doutrina de Cristo e dos batistas é a grande frase inspirada: “Uma vez para sempre,” “de uma só vez”, da Ep. aos Heb. e de Judas. Não se repete Belém ou o monte da transfiguração ou Calvário e os atos históricos da nossa religião. Um nervosismo, que procura repetir o que foi uma vez por todas, não é doutrina batista, mas apenas aberração, de algum batista, das doutrinas de sua fé. Benjamim Warfield escreveu que soube de casos em que um batista insistiu muito na imersão, como único batismo, mas não acreditava na existência de Deus. Acho que eu poderia localizar tais ateísta batistas, mas nem por isso ficou sendo o ateísmo uma doutrina batista, simplesmente porque alguns batistas o adotaram. E assim com qualquer outra apostasia da fé. A fé e sua negação nunca foram, ambas, doutrinas batistas. A fé, que a massa do nosso povo tem adquirido, como convicção geral, é a doutrina batista. Um grupo é capaz de errar, quando mais um indivíduo. Mas a doutrina corrige-se pelo Novo Testamento. Sua negação é a apostasia; não é outra doutrina batista. Existem lá nos museus, preservados em álcool, fetos com das cabeças ou de sete dedos na mão ou uma só perna ou olho e todas as demais deformidades. Conheço duas senhoritas, um tendo um só rim, a outra tendo quatro. Mas a norma do corpo humano fica a mesma, a despeito dessa anormalidades.
Anormalidades doutrinárias, porém, se podem generalizar. Uma ou duas crianças em cada década que nascessem com duas cabeças não afetariam a vida humana. Mas se alguém descobrisse jeito de fazer nascer, por qualquer arte mágica, um milhão de crianças de duas cabeças, isto seria um perigo para a raça. Seria apostasia física, como o romanismo é apostasia espiritual, ao criar um cristianismo com duas cabeças, o papa e Cristo Jesus.
Pior, porém, do que criar um tipo monstruoso é a tendência para o suicídio batista, em várias terras. A última vez que falei na vossa presença, esta união de autores, o assunto que me destes foi o suicídio. O suicídio de um indivíduo é triste, criminoso, anti-social, injusto à família, ao Estado e à sociedade e a Deus, supremamente. Mas o suicídio batista é vastamente mais sério. A perda de um indivíduo de nosso meio é trágica. Mas a perda de um povo, grupo que era forte e agressiva testemunha do evangelho, da verdade revelada, de Cristo e do cristianismo do Novo Testamento, a perda deste povo, digo pelo suicídio batista é perda infinitamente mais trágica. É o que se vê em várias terras. Há meio século havia mais de 400.000 batistas na Inglaterra. Hoje, há uns 300.000, se tantos. Em muitas igrejas há numeroso grupo dos que nunca foram batizados e entraram com a aspersão ou afusão ou nada, como batismo. Há pessoas de muitas denominações em igrejas batistas, por conveniência. A denominação começou a diminuir com o unionismo de J. H. Shakespeare e diminuiu cada ano, por uma ou mais décadas. É suicídios coletivo. No Canadá, na última estatística que tive à mão, ao escrever isto, o número de membros diminuiu quatro mil, o ano anterior. A convenção Batista do Norte, do meu país, teve 13.000 igrejas há poucas décadas, número que ficou reduzido a 7.000. Neste caso, felizmente, não foi a denominação que suicidou, mas quase a metade das igrejas abandonaram o grupo que deu abrigo a toda a sorte de modernismo e já faz parte do concílio Mundial de Igrejas. Uma Índia de Carey, o seminário teológico de Serampore, nome sagrado na história batista, agora é centro unionista, para a educação de obreiros luteranos, anglicanos, metodistas, presbiterianos, ortodoxos sírios, a Igreja Ortodoxa Síria Mar Tomá e quejandos, inclusive batistas das missões inglesas. O presidente deste educandário é um Católico ortodoxo sírio, que é seita pouco diferente do romanismo nas doutrinas fundamentais. O volume da aliança Batista reunida na Suécia, em 1952, afirma haver 60.000 batistas na Suécia. Mas, poucos anos depois, o número passou a 20.000, subindo, em 1947, para 40.000. Onde a razão dessa diferença? Apostasia. Foi para um seminário teológico modernista, em outra terra, um rapaz sueco. Ali aprendeu que Jesus não nasceu de virgem-mãe, que a Bíblia não é inspirada, só seus autores sendo inspirados, em ebuliente experiência que com eles evaporou, não afetando suas palavras, ou seus escritos. Quando ele voltou à Suécia revelou seus novos conhecimentos modernistas, conseguiu apoio ou tolerância oficial. Então, milhares de batista se revoltaram contra essa apostasia e, não tendo para onde virar, se fizeram pentecostais. Deste grupo pentecostal, veio o pentecostalismo para o Brasil. Roubou grande parte dos frutos di trabalho de Nelson e muitos outros batistas enganados. Fui um dia ao pastor Emílio Conde, “pastor” pentecostal nessa cidade, e lhe disse o seguinte: “Nós nunca havemos de concordar sobre a doutrina do batismo no Espírito Santo. Creio, porém que ambos nós amamos a Bíblia e seriamos zelosos na sua defesa. Fui informado, mas não tenho uma história dos batistas suecos com que possa atestar a informação, do seguinte.” (Narrei o que foi dito em cima e perguntei-lhe se, segundo a história de seu povo, a tal versão se confirmava. Ele me declarou que era também assim informando.) Esses 150.000 pentecostais no Brasil são frutos de modernismo num seminário batista, em outra terra. Um seminário modernista nos fez este grande mal. A apostasia modernista é praga, cujo contágio é mundial.
E não parou aí o efeito desse caso de modernismo. Estou lendo um livro sobre as maiores vozes da teologia americana, sendo que um dos seis é Nels F. S. Ferré. O pai dele foi batista sueco. O filho alega ter experimentado três conversões. Frans Ferré pregou o evangelho por 50 anos crendo a Bíblia. A família morava numa zona rural vizinhos da fazenda de Greta Garbo. Nels foi “convertido” em 1920, e no ano seguinte foi para os EE.UU., já cheio de dúvidas. Não sei se vieram do novo modernismo da Suécia. Encontrou mais, da mesma espécie, na outra América. Repudiou o evangelho e a Bíblia. Esta segunda “conversão” ele chama a conversão para a sinceridade. É uma das esquisitices do modernismo imaginar que só uma incredulidade é sincera, embora tais apóstatas não tenham a sinceridade de deixar uma região e que não crêem. Vivem do dinheiro de crentes, enquanto procuram aniquilar sua fé. Para mim, isso é o cúmulo da hipocrisia. Ferré deixou ou batistas e ensina agora na U. de Vanderbilt, foco de ultra-modernismo metodista. Agora, ele alegra que uma das explicações possíveis do nascimento de Jesus é que Maria era prostituta, ou ficou prostituída, num acampamento de soldados romanos, Jesus séria filho da judia nazarena e um soldado romano, vil calúnia dos judeus primitivos desenterrada por Ferré. A única desculpa da blasfêmia é que há pinturas de artistas nortistas europeus que pintam Jesus como tipo loiro. Logo, teve de ser filho de soldado alemão e Maria Nazarena. Está aprovado, por essa mesma arte medieval, que faz batismo de Cristo uma colônia de nudismo. Hitler e Ferré se converteram para este Cristo germânico. A terceira conversão de Ferré foi para agápe. Os modernistas hodiernos não podem usar o vocabulário cristão. Advogam kerugma, não pregação, e, mensagem, kerugmática, não pregação da verdade. Agora Ferré só anda pregando ágape. O próprio livro que estou lendo diz que seu pensamento seria mero sentimentalismo, sem a teologia companheira de Reinhold Niebuhr. Há propagandistas de modernismo, comunismo e toda sorte de ismos que só andam, agora, falando em amor, ou ágape. O amor, que é fruto do Espírito, ama primeiramente a Deus e ao homem, em segundo lugar. Ama a Jesus Cristo e o prova guardando suas palavras e obedecendo seus mandamentos. Ama aos pecadores, pregando-lhes o único evangelho. E pregar a verdade, em amor, inclui pelo amenos amor à verdade. Mas esse amor modernista reduz Jesus Cristo, possivelmente – Ferré apenas representa esta hipótese como uma das maneiras possível do nascimento de Jesus – ao fruto da quente carnalidade de uma ex-virgem nazarena. Imaginai, quando essas blasfêmias chegaram aos ouvidos do clero e dos pentecostais no Brasil, como partindo de um dos seis maiores teólogos da outra América, como isso afetará o evangelho que amamos. Cuidado com o tipo de pregador que só ande falando de amor, como bandeira de seu liberalismo, sem amor à pessoa de Jesus, às suas palavras e aos seus mandamentos. “O amor sem hipocrisia.”
Numa convenção da mocidade, no Estado de Carolina, fora convidado o tal Ferré, para orador. A Convenção Batista do Estado interveio, cancelou o lugar de Ferré no programa, nomeou uma comissão para investigar a razão do convite, demitiu três secretários de sua mocidade e, nisto, teve o apóio da vasta maioria do seu povo. São algumas das ondas, em quatro países, de uma classe modernista de teologia e seus efeitos sobre um estudante. O irmão Neprah, batista russo que nos visitou há poucos anos, narrou como outro professor, educado no estrangeiro, no modernismo, voltou a um seminário na Europa. Quando os alunos afinal perceberam que seu professor era incrédulo, na hipocrisia de um professorado cristão, tomaram-no literal, fisicamente, em seus braços e o lançaram fora do prédio. Ali, não houve suicídio batista. Haverá no Brasil?
Apostasias Batistas pululam. E seriam mentirosos Jesus e Paulo e João, se isto não fosse. Foi sempre a verdade e sempre será. É marca dos “últimos tempos”, frase que indica o prazo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Jesus, quando falou do bom Pastor, falou também do mercenário, assalariado pelo povo das ovelhas e deixando estas para o lobo devorador; assalariado, diria Paul, pelo povo na verdade, e servindo a doutrinas de demônios.
Falei-vos da apostasia antimissionária. Hoje em dia, isso é mania de incultos Casca Dura? Não, irmãos. Hoje em dia, professores modernistas de teologia minam toda a obra de missões, por negarem que Jesus proferiu a grande Comissão. Há dúvida real sobre o texto grego da Comissão em Marcos, dúvida, digo, não motivo de dogmatismo. Mas o criticismo textual não admite dúvida alguma sobre a comissão de Mateus. Porém, o modernismo odeia mais a Grande Comissão de Mateus do que a de Marcos. E seu forte apóio textual não influi. Rejeitam-no, por motivos de puro subjetivismo modernista. Qual o resultado? Fica sem fundamento o movimento missionário, se não foi Jesus que o ordenou. Se Jesus foi quem disse: “Ide, fazei discípulos; toda a autoridade para vos enviar é minha”, então o jovem missionário irá com gozo. Mas se foi um anônimo impostor do segundo século que forjou de Mateus, então as missões são baseadas em fraude e miserável hipocrisia. Demita-se nossa Junta de Missões Estrangeiras e o movimento missionário está morto. Os “Casca Dura”, agora, já estão em cadeiras teológicas, não em associações batistas de matutos e caipiras.
Analisei uma apostasia seca e fútil de sacramentalismo. Já leio muita literatura batista inglesa e de outros grupos, que advogam abertamente esta mesma apostasia. Chamam isto uma doutrina “alta” do batismo, classificando-a pela terminologia das divisões anglicanas.
Falei sobre a apostasia-mor, a apostasia-mater do catolicismo. Foi apostasia batista, no fim do primeiro século. O catolicismo foi criado por igrejas congregacionais, com uma só ordem de ministros, com diáconos que eram leigos, não padres principiantes, com a imersão como o único batismo, para crentes, depois da salvação, com o Novo Testamento já em circulação em suas várias partes, doutrinado o povo no que “o Espírito diz às igrejas”. Era um cristianismo nitidamente batista, que permitiu a apostasia do catolicismo dos séculos, logo após os apóstolos. E esta mesma apostasia está grassando entre os batistas, de novo, conduzindo para o novo catolicismo do concílio Mundial das Igrejas. A maioria das grandes convenções batistas já faz parte do concílio Mundial de Igreja. Mentem para fazer isto. Fingem que uma convenção batista é igreja batista, uma igreja nacional, como as igrejas protestantes. Isso é mentira abominável. Uma convenção não é Igreja; não tem nem aspecto nem função alguma de igreja; não batiza, não aceita nem membros, nem dá cartas demissoras; não consagra, nem elege, nem despede pastores; não exerce disciplina, não governa as igrejas. Nenhuma convenção batista é igreja, nem tem função alguma de igreja. Mas essas convenções batistas no Concílio Mundial estão ali disfarçadas de igrejas, em cada caso. Ou é hipocrisia ou é, nitidamente, a velha apostasia do catolicismo incipiente.
Ao sair dos EE.UU., há pouco, comprei vinte livros, a maioria expondo a teologia do unionismo modernista. Confesso-me pasmado com a ousadia avançada dessa propaganda. Abertamente dizem que h+a uma só Igreja. Dizem que ela e extensão da encarnação de Cristo. Vão além. Dizem que essa “Igreja Católica” é Cristo, absolutamente idêntica com Jesus Cristo. Breve a pequena oligarquia que governará essa apostasia será seu próprio Cristo. Muitos deles vão secretamente apoiando Schweitzer, ao pensar que a existência de Jesus é duvidosa. Todos concordam que isso é de somenos importância. Se ele nunca existiu, esse catolicismo será sua encarnação e o Cristo será o subjetivismo deles.
Que fazer? Que fizeram Cristo e Paulo e João? Avisai o povo, como fez Jesus, no Sermão do Monte e em João 10, e falando com Judas e com Pedro. Falai como Paulo deste perigo: “e eu sei que, depois de minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. Portanto, vigiai… Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça.” Falai, como João, contra os anticristos. Dizei as mulheres cristãs, mulheres como Priscila que amam a doutrina, “Se alguém vem ter conosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas vindas, porquanto aquele que lhe dá boas vindas faz-se cúmplice das suas obras más.” Também exorto que nossa oposição ao modernismo não seja nunca injusta. Citai o ensino falso, textualmente, ou calai-vos. Assuntos doutrinários não são questões pessoas. Os heresiarcas sempre querem ser tidos por mártires, arrastam tudo para o terreno pessoal. Não lhes deis esta honra. Recusai combate aí. Notastes quão poucas vezes Paulo declina o nome de algum líder judaizante? Combateu o erro, não o homem. E, logo, não sejais arrastados para fora da denominação com o irmão – ia declinar-lhe o nome, mas não o direi. Não sejais separatistas, pelo menos até a apostasia ameaçar dominar a situação, que Deus proíba. Estas igrejas no Brasil são de Jesus, são igrejas batistas, segundo o Novo Testamento. Fiquemos com elas, para que fiquemos com a verdade. Lutemos, informemos o povo, mas não tomaremos o fácil rumo de separar-nos da denominação cada vez que formos mal entendidos ou sofremos derrota. Os Ários tem muitas vitórias provisórias sobre os Atanásios. Perseverai. O amor regozija-se com a verdade, é partidário da verdade, iça a bandeira da verdade, veste suas cores. A verdade é nosso time. Soltemos foguete quando marca um gol.
Revista Teológica do Seminário Teológica Batista do Sul do Brasil no Rio de Janeiro. Artigo escrito em Julho de 1957.

Autor: William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br 


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